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Lições da Ryder Cup sobre liderança e trabalho em equipe

A Ryder Cup revela como o golfe ensina princípios valiosos de liderança, propósito e cultura de equipe aplicáveis ao mundo corporativo

O golfe é conhecido como um esporte de precisão, silêncio e, acima de tudo, individualidade. Mas acompanhar a final da Ryder Cup, nos Estados Unidos, no último mês, revelou uma face pouco explorada desse jogo: a força da estratégia coletiva, as decisões compartilhadas e o compromisso com algo maior do que a vitória pessoal. É, em essência, a “Copa do Mundo” do golfe.

A Ryder Cup é uma competição bienal entre equipes dos Estados Unidos e da Europa, reunindo os melhores golfistas do planeta — atletas que, em suas rotinas, são adversários diretos nos circuitos internacionais. Contudo, nesse torneio, o “eu” dá lugar ao “nós”. Eles jogam em duplas e individualmente, mas sempre em busca de pontos para o time que representam. E o mais simbólico: não há prêmio financeiro. O que está em jogo é propósito, pertencimento e orgulho coletivo.

O paradoxo do talento: quando o individual precisa servir ao coletivo

No mundo corporativo, assim como no golfe, é natural buscar os melhores profissionais. Toda empresa deseja formar times com os talentos mais qualificados. Mas a Ryder Cup ensina uma lição valiosa: reunir estrelas não garante vitórias.

Cada tacada é uma decisão compartilhada. Para que o time funcione, é preciso alinhar estilos, abrir mão de egos e jogar por um propósito comum.

Nas organizações, muitas vezes, premiamos o desempenho individual e depois esperamos colaboração espontânea. Esse é um erro frequente. Sem uma cultura intencional de equipe, não há coesão.

Não basta contratar talentos — é necessário integrá-los em torno de uma causa clara e significativa. E isso só acontece com liderança e propósito.

Liderança estratégica: entre técnica, contexto e cultura

Outro aspecto inspirador da Ryder Cup é o papel dos capitães — líderes que, mais do que escalar times, constroem estratégias e culturas de confiança.

Eles definem as duplas, as ordens de jogo e os ajustes táticos, combinando dados, sensibilidade e leitura de contexto. São líderes presentes, que acompanham, orientam e motivam os jogadores a cada rodada.

Esses capitães representam o que chamo de líder moderno: aquele que vai além da técnica, enxerga complementaridades e equilibra inspiração, análise e execução. Tudo isso sustentado por comunicação constante e confiança mútua.

Um exemplo simbólico desse espírito é a chamada “regra do envelope” — pouco conhecida fora do golfe. Antes da rodada final, cada capitão deve indicar, em sigilo, um jogador que ficará de fora caso alguém da equipe adversária se machuque. Essa decisão, discreta mas crucial, revela um princípio poderoso: em times de alta performance, o plano não depende de uma única pessoa.

Cultura forte é aquela que sobrevive aos talentos

Essa prática suscita uma reflexão inevitável: nossas empresas estão preparadas para a ausência de uma liderança-chave? Ou ainda dependem excessivamente de indivíduos específicos para funcionar?

Construir uma cultura organizacional resiliente significa criar estruturas que protejam o coletivo — mesmo diante de vulnerabilidades.
Não se trata de anular talentos, mas de garantir que o sistema funcione além das pessoas que o compõem.

Jogar por um propósito

O que diferencia a Ryder Cup de qualquer outro torneio é o propósito que move os jogadores. Eles não competem por bônus ou troféus individuais, mas pelo pertencimento a algo maior.

De um lado, a seleção dos Estados Unidos; do outro, a seleção da Europa — formada por profissionais de diferentes países, idiomas e culturas. É justamente essa diversidade que torna a união e o espírito de equipe tão marcantes.

No universo corporativo, essa lógica parece distante — mas deveria ser uma inspiração cotidiana. Porque, no fim das contas, liderar não é apenas extrair o melhor de cada pessoa, e sim criar um ambiente onde todos queiram dar o melhor de si — juntos.

A pergunta que fica é:
qual é a “Ryder Cup” que sua organização precisa vencer este ano?
E, mais importante: você está construindo um time — ou apenas contratando estrelas?